Fã confesso do cineasta sueco Ingmar Bergman, Salvador Sobral decidiu viajar para a Suécia para aprender a língua. E foi precisamente durante esse tempo que foi convidado a participar no programa de televisão Skavlan e recordou a sua vitória no Festival de Eurovisão e os meses difíceis que se seguiram, com a espera de um dador compatível para que pudesse fazer o transplante de coração que lhe permitiria voltar a ter uma vida normal.
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“A Eurovisão foi a minha prostituição”, voltou a afirmar o artista português, algo que já tinha dito na altura da vitória. Ainda assim, reconhece que atualmente consegue olhar para tudo de forma diferente: “Hoje em dia, considero que fui demasiado fundamentalista e extremista. Na minha opinião, a Eurovisão não é sobre a música mas sim o espetáculo. É um espetáculo para as pessoas aproveitarem toda a nova tecnologia”.
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Ainda assim, Salvador Sobral diz que sempre se sentiu fora de contexto, porque havia muitas festas e eventos com os quais não se identificava. “Eu fisicamente não podia, mas na realidade também não queria ir. Aconteciam em discotecas e eu não gosto. É tudo um mundo. São uma série de coisas com as quais não me identifico. Portanto, desde o início estive um pouco à margem, até ao fim. Depois de ganhar havia uma série de coisas a fazer, que os vencedores têm de fazer, e não é que eu seja contra, mas não me identifico”, explicou.
Questionado sobre o primeiro pensamento que teve quando ouvi anunciar o seu nome como o vencedor da competição, o músico deixou a plateia a rir ao confessar: “Estava longe do palco e tinha de subir várias escadas para lá chegar. Naquela altura estava muito doente e era muito difícil subir escadas. Estava supernervoso e cansado. Só pensei: ‘Não. Ganhei e vou ter de subir aquelas escadas todas’”.
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Obviamente que o pensamento estava condicionado pela condição física do artista, que sofria de insuficiência cardíaca, o que tinha uma série de outras complicações: “Tinha uma barriga de cerveja de um homem velho, devido à retenção de líquidos. Tinha 25 quilos de líquidos acumulados no corpo. Usei uma t-shirt preta, muito larga, para não se notar”.
Quando o apresentador questionou a importância da sua irmã, Luísa Sobral, em todo o processo, Salvador foi perentório: “Deve-se quase tudo a ela. Ela escrever a música e substituiu-me nos ensaios durante uma semana”.
O jovem artista confessou ainda que a espera pela operação foi das fases mais difíceis da sua vida e que não conseguiu criar nada de relevante. “Seria romântico e até poético dizer que escrevi músicas no período mais difícil da minha vida. Na realidade, só vi séries da Netflix. Estava muito deprimido. Depois [do transplante] escrevi algumas músicas que vão estar no meu próximo álbum. A primeira música é sobre a experiência e é uma espécie de catarse. Está separada do resto das músicas. Marca o fim [da fase menos boa]”, explicou, acrescentando: “É como se fosse um álbum de renascimento”.
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Mas depois da operação, o músico sente-se um homem novo. “Jogo futebol 2 horas por semana e corro. Posso fazer tudo”, afirmou. Contudo, até chegar onde se encontra agora também teve de percorrer um longo percurso até se sentir completamente apto a regressar aos palcos: “A primeira vez foi num bar onde toco frequentemente em Portugal. Não tinha força nas pernas porque tinha estado deitado durante muito tempo, não tinha músculos. Lembro-me de tentar cantar e a minha voz tremia imenso. Não tinha força. Fiquei tão frustrado que dei um salto e caí no palco. É certo que era um bar, mas eu caí em palco e senti que devia ir embora. Fiquei tão triste. E depois, a pouco e pouco, comecei a cantar bem, melhor, e agora… não acho que esteja no ponto, mas estou a chegar lá, à minha voz”.
Quanto à identidade do dador, que não conhece, o irmão de Luísa Sobral assume que “não quereria saber”. “Sinto-me bem, não importa de quem era”, conclui.