Luís Sanchez esteve esta sexta-feira, 5 de abril, n’ O Programa da Cristina para falar de um dos episódios mais marcantes da sua vida: a morte do companheiro, João Branco, de 40 anos, que decidiu por fim à vida no passado mês de dezembro, atirando-se do 10.º andar.
“Naquele dia que o João decidiu partir, metade de mim partiu com ele. Durante aquele dia nós estivemos a trabalhar, estivemos a falar das viagens que íamos fazer, ou seja, nada fazia prever o desfecho que acabou por ter”, começa por dizer Luís Sanchez, antes de recordar que o companheiro recebeu uma chamada da mãe e que saiu depois para ir a sua casa buscar o jantar. Passados cerca de 40 minutos, recebeu uma mensagem a dizer “amo-te ❤” e respondeu, mas estranhou porque as suas mensagens não estavam a ser lidas. Minutos depois, lembra, recebeu uma chamada do tio de João Branco a dar a trágica notícia.
“A nossa mente arranja as mais variadas formas de entrar em negação perante uma notícia tão má e tão trágica. Eu não queria ver o corpo do João quando lá chegasse. Essa era uma certeza que eu tinha quando saí de casa, mas a realidade é que vi o corpo do João. É a pior sensação do mundo. Naquele momento eu percebi que o homem que eu amava tinha desaparecido para sempre. Foi, sem dúvida, o pior dia da minha vida. O que ficou por dizer, por fazer… Não há resposta para isso”, afirma, emocionado.
Já no estúdio e à conversa com Cristina Ferreira, Luís Sanchez assumiu ter “o coração despedaçado” e contou que o companheiro – tanto na vida pessoal como profissional – “não deu nenhum sinal”, revelando ainda que dias antes tinham visto o filme que aborda o suicídio do estilista Alexander McQueen, em 2010, e João Branco, como já fizera noutras ocasiões, tinha deixado bem claro que não entendia este tipo de atitude por ser “um pacifista”.
A apresentadora da SIC quis saber que o designer de moda tinha dado algum sinal que poderia indicar esta tragédia. “Ele era o mesmo de sempre. Nada fazia prever isto. É muito difícil compreender, só consigo aceitar. Porque quando tentamos compreender, começamos a divagar e isso não é um processo bom, não o vai trazer de volta (…) Nunca saberemos. Fica a dor. Todos os dias choro. Choro ao acordar, choro ao deitar-me, inclusive construi um pequeno altar com as fotos dele e nossas, onde falo com ele sobre as conquistas do dia, as ajudas que preciso porque, de facto, é duro ficar-se assim, só, de repente.”
O facto da última palavra do companheiro ter sido de amor, “pode ser uma espécie de consolo”. “Alguma coisa o afligia ou o perturbou de tal forma que o levou a tomar essa decisão e é estranho porque ele tinha vertigens, medo das alturas. É quase como confrontar o medo. Ele tinha realmente pavor (…) É um ato de coragem, escolher-se partir e principalmente de uma forma tão violenta (…) Eu não queria ver o corpo. Seria traumático e não era a imagem que eu queria guardar e pensei: ‘O que está ali é apenas um corpo, o João já está noutro sítio, na eternidade, no Universo. Olhei, mas não me aproximei”, recorda Luís Sanchez.
Os tempos que se seguiram foram de dor, mas também de dúvida em relação ao futuro da marca que ambos construíram juntos. “O João sempre foi um otimista, alegre. Sempre foi extrovertido e eu introvertido e, contrariamente àquilo que eu achei que ia acontecer nos tempos a seguir, que era fechar-me, eu optei por fazer o contrário, por partilhar a dor rodeando-me de amigos e família e, de facto, é isso que me tem ajudado. Amigos, família, e a minha equipa nos Storytailors. (…) Nos primeiros dias ponderei se faria sentido continuar com a marca. Não é pôr em causa o projeto, o conceito, mas se fazia sentido continuar sem o João. No fundo, nós somos complementares e é nessa dinâmica que funcionamos e que as peças são criadas. Mas percebi que tinha de continuar. Ainda estive um mês e meio a recuperar do choque e depois, tendo uma empresa, um negócio, clientes e compromissos, tive que me encher de força para voltar à Storytailors”, afirma, antes de acrescentar que a próxima coleção a ser apresentada ainda foi toda idealizada pelos dois.
“Eu sinto que ele vai estar sempre presente porque uma das estratégias que eu desenhei para a marca é pegar em peças icónicas de todas as nossas coleções e conseguir continuá-las. No meu trabalho na Storytailors, o João está presente em tudo e encontrá-lo em tantos momentos, claro que me emociona. E quando tenho que chorar, choro”, assume.
Para terminar a conversa, Cristina Ferreira lembra que João Branco e Luís Sanchez estiveram presentes num dos momentos “mais mágicos” da sua vida, o batizado do seu filho, Tiago, agora com dez anos, em 2009. Isto porque a apresentadora usou um vestido criado pela dupla, que, aliás, fez questão de mostrar em direto.
Veja a entrevista: