Mateus Solano é uma figura bem conhecida dos portugueses por conta das personagens que tem interpretado em novelas brasileiras quee acabam por chegar a Portugal. É impossível não pensar no carismático Félix, de “Amor à Vida”, mas antes disso já nos tinha chegado ‘a casa’ no remake de “Gabriela”, em “Morde e Assopra” e até em dose dupla como os gémeos Miguel e Jorge de “Viver a Vida”, mas foi, sem dúvida, como Félix que conquistou o carinho e o humor dos espetadores portugueses.
Mateus atribui o sucesso do Félix muito também à internet: “Ele foi um dos primeiros memes [que saíram da televisão], que deu um casamento perfeito entre a TV e a internet”, só assim se explica o boom da personagem e a memória que ainda hoje existe de algumas das suas frases e deixas mais marcantes.
A internet e a exposição nas redes sociais
É precisamente sobre internet e o mundo digital que fala a peça “Selfie” que está em cena em Portugal, o motivo que traz Solano ao nosso país. “Selfie” fala de tecnologias sem as levar a palco, para deixar algo à imaginação das pessoas, “hoje em dia já é tudo tão dado e óbvio nos telemóveis, nos dispositivos que a nossa imaginação não é muito incentivada”, diz Mateus Solano, acrescentando que “não sou aficionado pelas redes sociais, mas por ser uma figura pública também sou um pouco empurrado”.
Aproveita as redes para promover causas em que acredita, como a preservação ambiental “é isso que eu tenho feito com a tal da visibilidade. Fora isso, tento dar um pouco o que as pessoas querem ver e a gente percebe isso pelo número de likes: as pessoas querem ver-me, então comecei a tirar mais selfies”, explica o ator que faz questão de preservar a imagem e privacidade dos filhos, não os expondo nas redes sociais nem na imprensa porque “é uma escolha, eu escolho deixar que eles escolham. O facto de serem meus filhos já vai trazer alguma carga para eles. O pai ser uma figura pública não vai ser fácil, então eu quero poupá-los a isso”, diz o pai de Flora e de Benjamim, que nota que, com a crescente exposição nas redes sociais, “os paparazzi foram desaparecendo” porque hoje em dia está tudo na internet.
A família e os filhos
Mateus Solano é casado com a também atriz Paula Braun, desde 2008. Conheceram-se em cena, numa curta-metragem em que Solano foi alternativa ao ator que estava planeado para o trabalho que envolvia uma cena íntima: “conhecemo-nos e fomos logo para a cama. Fizemos ao contrário, só não tivemos filhos antes”, brinca, ao mesmo tempo que elogia a esposa e o seu talento: “A minha mulher é uma grande atriz, eu já era fã dela antes mesmo de lhe pedir o número. Entretanto virei fã dela dos pés à cabeça”.
Juntos, Mateus e Paula têm dois filhos, Flora, de sete anos, e Benjamim, que completa três anos em maio e o ator conta que a paternidade o tornou uma pessoa mais terra-a-terra, porque “os filhos dão um objetivo bem concreto [à vida]. Os artistas são meio aluados e cada dia é uma coisa diferente, temos uma vontade de ver a vida de forma diferente, acho que um filho te puxa para um lugar mais concreto. Precisas de lhe dar tudo para ser uma pessoa de bem e que valha a pena estar neste mundo”. Contudo, confessa que é diferente ser pai de uma menina de ser pai de um menino e que “eu dou por mim a pensar ‘olha como eu estou a ser com ele e como eu era com ela. Porque é que eu sou deste jeito com ele por ele ser homem?’ (…) A gente vai-se sempre analisando. Um filho também é uma oportunidade para o ator continuar a olhar para si através do espelho que o filho é”.
O pai orgulhoso e consciente mostra ter noção do mundo tecnológico em que estamos, cada vez mais, a passar a viver e que os seus filhos o viverão ainda mais ‘digitalmente’ do que hoje em dia se vive, mas defende que temos de nos adaptar aos tempos, que não são melhores nem piores do que antes, são apenas diferentes: “A gente vê muito os nossos pais a reclamar que ‘na nossa época…’, acho que a gente não pode repetir isso, temos que perceber que a época é mais forte do que qualquer vontade nostálgica nossa de manter este ou aquele valor. Temos que encaixar valores que não se perdem como humanidade, afeto, respeito, etc. nesta loucura e nesta conectividade tão grande que tem os seus prós e contras”.
A causa ambiental
Mateus Solano sensibilizou-se cedo com a causa da preservação ambiental, mas foi quando percebeu que podia utilizar a sua visibilidade e as redes sociais para falar por essa causa que as coisas mudaram. É possível perceber isso se passarmos pelas suas redes sociais, onde se encontram várias imagens que apelam a ações de limpeza de praias, em que marca presença frequentemente.
Sobre a sustentabilidade ambiental, que defende e aplica diariamente, diz que “é difícil convencer o ser humano de que não precisa de certos confortos” e dá o exemplo da palhinha dos sumos, que seria totalmente dispensável, mas à qual nos acostumámos. No entanto, confessa que “é difícil também não ser um ‘eco chato’”.
A relação com Portugal
Com apenas três anos veio viver para Portugal com a família, para acompanhar o pai na profissão de diplomata, mas diz que guarda muitas memórias daqueles tempos e das longas caminhadas que dava pelos bairros, algo que ainda hoje mantém: “Sempre que venho cá redescubro Portugal e vejo sempre as coisas num novo ponto de vista. Já tive uma perspetiva muito pessoal, agora eu caminho e penso onde é que Saramago ou Pessoa podem ter passado e o que é que eles podem ter visto, experienciado… os pontos de vista são múltiplos, acho que sempre que voltar a Portugal vou redescobri-lo”.
Depois do regresso para o Brasil já veio várias vezes a Portugal, a maior parte delas em trabalho. Tornou-se fã da cidade de Lisboa, mas foi conquistado pelo estômago, porque “tudo é bom demais”, sobretudo os doces. Já conhecia o pastel de belém e nesta visita ao país experimentou o pão de deus e a encharcada, aos quais já ficou rendido.
A peça “Selfie” com Mateus Solano e Miguel Thiré está em cena no Teatro Tivoli, em Lisboa, até dia 18 de março e depois passa para o Porto, onde estará entre os dias 22 e 25 de março, no Teatro Sá da Bandeira.