“Jamais me ouvirão dizer 'no meu tempo é que era bom'" - O emotivo discurso de Júlio Isidro nos Globos de Ouro

O apresentador de 80 anos recebeu o Globo de Mérito e Excelência.

Júlio Isidro
Júlio Isidro
SIC

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Este domingo, 28 de setembro, todos os caminhos foram dar ao Coliseu dos Recreios. A gala dos Globos de Ouro foi repleta de momentos marcantes como o de Júlio Isidro, que recebeu o Globo de Mérito e Excelência.

"Não me passava pela cabeça que hoje iria receber este prémio". Foi assim que o apresentador, de 80 anos, começou o seu discurso, referindo que foi a mulher que lhe disse que devia estar presente este ano, e "mais estranhou" quando os familiares também quiseram ir ao evento.

Júlio Isidro recordou então o seu percurso profissional: "Aos 15 anos, fiz provas para apresentador de televisão. Eu e mais 300 jovens dos liceus de Lisboa. Fiz as provas, fiquei numa seleção final e um produtor disse-me que tinha ficado em primeiro lugar, mas que só não tinha ficado porque era o mais feio", contou. "A partir daí, fiquei na expectativa se iria ser chamado ou não para fazer televisão. Mas chamaram-me para apresentar o 'Programa Juvenil'", acrescentou.

"Passaram-se 65 anos em que fiz tudo o que havia para fazer em televisão e em rádio e apresentar espetáculos ao vivo. Mas, como era colaborador provisório da RTP, ficava sempre na expectativa: será que daqui a 13 semanas me vão contratar outra vez? Às vezes contratavam, outras vezes não. Quando não acontecia, eu tenha de me desenrascar. Fui delegado de propaganda médica (...) Escrevia para revistas e jornais, fiz contra capas de discos… Fui sempre tentando trabalhar nos intervalos em que a televisão não se lembrava de mim. Praticamente, fiz tudo", destacou.

"Aprendi que ser provisório é um estímulo. Daí a minha profunda homenagem para os atores, cantores, técnicos... Para todos aqueles que fazem da vida uma aventura (...) É uma estranha forma de vida a que escolhi, assim como muitos que estão aqui", explicou. “Jamais me ouvirão dizer 'no meu tempo é que era bom'. Neste tempo, há tanta gente com tanto ou mais talento do que no meu tempo. Não tenho dúvidas."

O apresentador também falou sobre o seu "agregado familiar": "Bati-me ao longo destes anos por uma coisa muito importante: 'Júlio, mantém-te em forma, para que as tuas filhas não digam ‘O meu pai foi, o meu pai fez’. Não, não. O pai é e o pai faz", confessou, recebendo aplausos. E continuou: ”Fui ao médico e perguntei: 'Dr., estas dores, isto será artrite?' ‘Não, isso é rigor mortis antecipado’, mas as análises têm sido razoáveis e penso que tenho ainda futuro para construir o futuro.”

Júlio Isidro lamentou ainda o que vê nas notícias: “É muito importante vivermos em paz. Eu não consigo viver em paz comigo próprio quando abro a televisão e verifico que o mundo não é aquele em que eu nasci. Sou um produto do final da guerra e creio que vou partir com guerra neste mundo inteiro. É absolutamente lamentável o que está a acontecer e que provocação a minha indignação e tristeza.”


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