Um texto sobre homofobia publicado por Rui Maria Pêgo no Instagram acabou por ser denunciado e censurado por, alegadamente, ser “um discurso de ódio”. O sucedido foi explicado pelo filho de Júlia Pinheiro, de 29 anos, precisamente na mesma rede social, na legenda de uma imagem a preto com a inscrição ‘This story is no longer available’.
“O @instagram acabou de apagar o meu último post sobre o texto que escrevi para o @observadorontime dentro da parceria com os @globalshaperscommunity. Não sei quem denunciou o post como discurso de ódio quando este já constituía uma denúncia de...Discurso de ódio! Comprova-se, parece-me, a pertinência do texto. Não consigo deixar de achar graça, sabem? Ao hacker, comentador online ou beata com um bom plano de dados: não fique incomodado/a com as dezenas de comentários de apoio digital. Não vem aí o apocalipse gay! A água que lhe sai da torneira não vai fazê-lo ouvir @arianagrande... Nem se tornará o lip synch O desporto nacional. Com pena minha, confesso! Fica aqui um beijinho e uma promessa: não vamos a lado nenhum, baby. O link continua na bio e os comentários difamatórios nas stories. Lutar por uma voz não é só necessário. É fundamental”, escreveu o locutor de rádio.
Entretanto foram várias as figuras públicas que demonstraram o seu apoio a Rui Maria Pêgo. Entre elas a apresentadora Maria Botelho Moniz, que deixou o seguinte comentário: “Os bons estão contigo”.
Também Nuno Markl deixou um longo desabafo: “Tive a sorte de conhecer a Internet em 95, quando ela deu os seus primeiros passos em Portugal. Era um mundo simples, cru, mas livre, fascinante e invulgarmente saudável. Não havia muito ódio. Celebrava-se e criava-se a amizade, em fóruns e em plataformas como o Telnet (Portugal Virtual, lembram-se?), o IRC, etc. Depois toda a gente foi dando isto como adquirido. Toda a gente se acomodou, ganhou confiança, e por cada avanço na sofisticação do ‘ciberespaço’, vários passos eram dados para trás. As redes sociais, com a sua promoção do ‘gostar’ e a sua bastardização reles da outrora respeitável palavra ‘amigo’, tornaram-se pasto para manadas de odiadores ruminarem o seu ódio impunemente e, aqui e ali, conseguirem sentir que são a norma. Por exemplo, quando conseguiram esta tarde que o post que o @ruimariapego fez no Instagram sobre a crónica que escreveu para o @observadorontime, uma urgente denúncia do discurso de ódio... acabasse censurado. Só há uma coisa que me irrita mais do que a vitória de vilões: é a vitória de vilões activamente apoiada por instituições que se dizem modernas e plurais. O Instagram, seja com bots ou com gente, legitimou injustiça e homofobia em estado puro. E isso é uma vergonha”.
Rui Maria Pêgo assumiu publicamente a sua orientação sexual em junho de 2016, na sequência de um atentado na maior discoteca gay dos Estados Unidos, onde morreram 50 pessoas e outras tantas ficaram feridas.
Recentemente falou de como ele próprio olhava para a situação em criança: “Cresci durante muito tempo - e desde muito cedo - a acreditar que ser gay era um problema; um pecado; um erro genético; uma doença; uma informação a ocultar; um passe direto para a rejeição total numa sociedade conservadora e pouco disponível para incluir a diferença. E ainda menos habilitada para perceber que somos todos feitos do mesmo dentro das diferenças de cada um”.
E recordou ainda que foi em lágrimas que falou pela primeira vez no assunto com os pais, Júlia Pinheiro e Rui Pêgo, que aceitaram com naturalidade.