Luís Francis Albert Victor Nicholas Mountbatten, tio do duque de Edimburgo e primo em segundo grau da rainha Isabel II, morreu há mais de quatro décadas, mas está a ser acusado de abusar sexualmente um menino de 11 anos. O caso irá ser reaberto 43 anos após a morte do antigo vice-rei e governador-geral da Índia.
Arthur Smyth, que renunciou ao seu direito ao anonimato, afirmou que foi violado duas vezes por Mountbatten no orfanato Kincora, na Irlanda do Norte, em 1977. Dois anos depois, o lorde foi morto, aos 79 anos, pela explosão de uma bomba colocada pelo IRA no seu barco de pesca em Mullaghmore, no norte da Irlanda, matando outras três pessoas, incluindo o seu neto.
Há cinco anos, foi feito um inquérito público que descobriu que pelo menos 39 crianças e jovens foram abusados sexualmente em Kincora. Quatro décadas depois três funcionários foram presos por abusar lá 11 vítimas. As autoridades foram criticadas por não agirem na altura. Agora, e pela primeira vez, o caso será levado ao Supremo Tribunal de Belfast, a capital da Irlanda do Norte.
Smyth, agora com 56 anos e a viver na Austrália, afirma que foi abusado pela primeira vez pelo membro da equipa William McGrath – que veio a ser conhecido como “a besta de Kincora” – logo após chegar à casa e foi ele que o apresentou a Luís Mountbatten em agosto de 1977.
“McGrath dizia: ‘Vais conhecer um amigo especial’. E eu disse: ‘Ah, a sério?’. E foi aí que ele me levou para aquela sala – lá embaixo havia um grande escritório, com uma grande mesa e havia um chuveiro. “O nome [do estranho] nunca foi mencionado na sala. Ele fez-me tomar banho e depois McGrath desceu”, contou ao Sunday Life, citado pelo Daily Mail, referindo apenas percebeu quem era o seu agressor em 1979 devido à publicidade em torno da sua morte.
“Não esqueces quem abusou de ti. Confia em mim. Tu bloqueias, mas não esqueces. Desliguei por anos. Fiquei envergonhado com o que aconteceu, mas agora quero paz”, acrescentou.
A ação civil legal contra Mountbatten também é movida contra várias instituições da Irlanda do Norte, incluindo o Departamento de Saúde e o chefe de polícia do Serviço de Polícia da Irlanda do Norte. Kevin Winters, advogado de Smyth, afirmou: “[Esta é] a primeira vez que alguém se apresenta para levar acusações contra Luís Mountbatten a um tribunal. Essa decisão não foi tomada de ânimo leve. Ele entende muito bem que será um caso profundamente impopular para muitas pessoas, que acontece poucas semanas após a morte da rainha [a 8 de setembro, aos 96 anos]. No entanto, litígios envolvendo abuso mental, físico e sexual não são realizados para ofender deliberadamente sensibilidades.”