Terminado o debate instrutório do acidente que provocou a morte de Sara Carreira, o Tribunal de Santarém decidiu levar Ivo Lucas, Cristina Branco e Paulo Neves a julgamento por homicídio por negligência. Ou seja, vão os três sentar-se no banco dos réus.
Numa primeira reação, à saída do Tribunal de Santarém, Tony Carreira revelou-se pouco otimista sobre o desfecho deste processo.
“Não tenho nada para dizer. Volto a dizer o que já disse muitas vezes, sei perfeitamente como é que isto vai terminar: vai terminar a dizer-se que perdi a minha filha e nada vai acontecer a ninguém. Só lamento que nenhum dos arguidos me tenha enviado uma mensagem ou escrito uma carta a lamentar a dizer simples: ‘lamento aquilo que aconteceu”, disse Tony Carreira aos jornalistas.
A família Carreira queria que os três arguidos fossem pronunciados por negligência grosseira, mas isso não se confirmou. Ainda assim, o tribunal deu razão à família e acusou também por negligência Paulo Neves, o condutor no qual embateu a viatura de Cristina Branco.
Assim sendo, o juiz de instrução criminal do Tribunal de Santarém pronunciou hoje para julgamento os quatro envolvidos no acidente na A1, mantendo para Cristina Branco a acusação da prática de um crime de homicídio por negligência (passível de pena de prisão até três anos) e retirando a contraordenação por não colocação do triângulo sinalizador.
A decisão instrutória agravou a acusação imputada a Ivo Lucas, que vai ser julgado pela prática de um crime de homicídio negligente na forma grosseira (passível de pena de prisão até cinco anos), o mesmo crime que imputou a Paulo Neves, o condutor cuja conduta, concluiu o juiz, contribuiu para a cadeia de acidentes que se sucederam.
Cristina Branco recordou noite do acidente
A 5 de dezembro de 2020 tinha estado a chover e o piso estava molhado. O carro conduzido pela fadista Cristina Branco embateu num outro onde seguia Paulo Neves a cerca de 30 km/hora, ou seja, abaixo do mínimo permitido por lei.
Devido ao embate, a viatura da fadista ficou virada em sentido contrário na faixa central. Sem mexer na viatura, saiu do carro levando a filha, então com 11 anos, para o separador central, julgando que estava a deslocar-se para a berma da estrada.
Na instrução, Cristina Branco procurou demonstrar que tomou as medidas que lhe foram possíveis para sinalizar devidamente a viatura, justificando com o “instinto de proteção” da filha, e a confusão em que se encontrava, o facto de não ter colocado o triângulo.
A fadista foi a única dos quatros arguidos que falou em tribunal. Ivo Lucas, que viajava ao volante no carro de Sara Carreira, não compareceu mas o Ministério Público considera que “não tem nenhuma hipótese de ser excluído deste acidente como principal culpado”.