Luísa Castel-Branco fez um relato impressionante na véspera de lançamento do novo livro O Amor É Uma Invenção dos Pobres – Pensamentos e Emoções Sobre o Amor e os Filhos, o segundo volume da trilogia autobiográfica, que chegou às bancas esta quinta-feira, 17 de novembro.
Em entrevista à Selfie, a escritora revelou que foi vítima de abusos sexuais na infância e na pré-adolescência por “um amigo da família, de toda a vida, e um primo afastado“.
“Não se supera… Tem-se uma vergonha para o resto da vida, como se aos sete e aos 11 anos pudesse fazer-se mais alguma coisa”, contou a ex-comentadora do ‘Passadeira Vermelha’, da SIC, referindo que “naquela altura, nem sabia o que aquilo era. Daí que não fosse passível de falar”.
Luísa revela ainda que “quase todo o livro são coisas de que ninguém sabia”, nem mesmo os seus filhos ou o seu marido [Francisco Colaço]. “Se eu não tivesse escrito aquilo que estava entalado na minha garganta, na minha alma, no meu coração, não faria sentido eu falar sobre nada. Porque tudo começa ali e se prolonga para o resto da vida. Mas, ao mesmo tempo, saber que iria abrir uma porta que nunca tive coragem de abrir…“, disse.
“Acho que qualquer criança que é molestada é uma criança que perdeu a vida, a inocência, os sonhos, uma data de coisas… Só mais tarde, quando fiz psicanálise, percebi que aqueles pesadelos que tinha recorrentemente eram verdade”, afirmou. “Achava que tinha pesadelos, como todos têm pesadelos de muita coisa… Uma vez destapado… A partir daí, vêm os sons, a textura da roupa… Vem tudo em catadupa. E isso é que deu origem a que eu, a seguir, tivesse ataques de epilepsia e tivesse ido para uma clínica fazer uma cura de sono“, acrescentou.
Questionada sobre como é viver tantos anos em silêncio, a escritora respondeu: “Com vergonha. É tão estúpido… Uma pessoa está a ver qualquer uma das milhentas notícias que aparecem e olha aqueles milhentos casos que vão a tribunal e saem de lá com penas suspensas. Tenho sempre vontade que alguém ensine o juiz ou a juíza o que isto realmente significa. É óbvio que nenhuma daquelas crianças merece ter vergonha. Deve ser, exatamente, o contrário.“