Tem mais de 20 anos de carreira e estreou-se na famosa série juvenil e brilhou em várias produções da Globo. Cauã Reymond, o ator de Avenida Brasil e A Favorita, esteve em Portugal e falámos com o também produtor brasileiro com vários projetos a estrear no país. A série Ilha de Ferro chega no próximo mês à plataforma de streaming Globoplay e Um Lugar ao Sol, a novela onde protagoniza dois irmãos gémeos estreou na passada segunda-feira, dia 25 de julho.
A novela conta a história de Christian e Christopher/Renato que crescem separados até que um irmão toma a identidade do outro. Cauã Reymond não tem dúvidas que este é o maior desafio da sua carreira numa produção a que esteve alocado durante três anos, fruto da pandemia. Um Lugar ao Sol é a primeira novela de sempre na Globo, integralmente gravada, sem poder assim poder adaptar-se ao feedback do público, enquanto é emitida. No Brasil, a novela está na reta final e foram gravados três finais.
Cauã desconhece qual foi o escolhido.
Não é a primeira vez que interpreta dois irmãos mas, antes disso, o que o atraiu mais no guião da Lícia Manzo?
É engraçado porque eu estava indicado para ser protagonista de uma outra novela das 21h e o Sílvio Abreu, o diretor artístico da Globo na altura, ligou-me. ‘Eu tenho um grande personagem para ti. Eu sei que estás com outro projeto, mas acho que esta personagem tem tudo a ver contigo’. Assim que tive o roteiro (guião) nas mãos sabia que tinha o meu maior desafio. Mesmo em termos de volume de texto. As pessoas pensam que a vida de ator tem muito glamour, e há esse lado, mas também há muito trabalho, mudanças constantes que acontecem à hora de deitar e de acordar.
Era complexo?
Muito. Esse foi o maior desafio e o volume do roteiro.
Como é que se concretiza nas gravações o processo de gravar duas personagens diferentes? Li que contou com a ajuda do seu irmão, Pável, e de uma bola de tenis?
Isso. Ele era dublê (duplo) e também se estreou como ator. Mas, na verdade, usámos muita tecnologia. Eu fazia três ou quatro vezes a mesma cena, uma a falar com a bola, outra com o meu irmão, outra sozinho e outras mais a ouvir antes (ou depois) a minha voz (de cada irmão). Trouxe muito traquejo e muita disciplina. Só fortaleceu o meu jogo.
A Ilha de Ferro, que estreia no próximo mês no canal Globo em Portugal, é a série mais cara da emissora. É entusiasmante e intimidante participar numa produção massiva com um orçamento gigante?
Não senti essa pressão. Foi um projeto muito bacana. Toda a gente teve de fazer um curso para entrar numa plataforma de petróleo (nível de perigo de uma plataforma de petróleo é o mesmo do que o de uma central nuclear.). Trouxe a equipa muito unida. Fortaleceu o projeto. Achei brilhante a direção do Afonso Poyart e tenho muito orgulho na Ilha de Ferro.
Tem produzido cinema e tem nos planos uma série de ficção sobre os bastidores e o universo do futebol. Produzir culmina muitas vezes em realizar. Isso está no horizonte?
Na verdade acho que já está no meu presente. Já faz parte da minha vida. Acho que já sou um realizador.
Li que o Top Gun é um filme especial para si. Qual é a razão?
O meu pai mora noutro outro estado e, quando era muito pequeno, ele viajava para o Rio de Janeiro. Entrava no videoclube e sabia o que ia ver. Eu não sabia o que escolher. Escolhia sempre o filme, Top Gun.
A sequela está quase aí.
Pois é. Já está gravada e estou louco para assistir. Vai ser óptimo. [O filme já saiu nos cinemas]
Em entrevistas mais antigas falava muito de videojogos. Qual foi a coisa mais nerd que fez?
O meu irmão (que é veterinário) faz streaming de jogos. Eu já não tenho tanto tempo assim. Tenho feito muito jiu-jitsu e estou com uma tendinite. Ou luto ou jogo, e prefiro lutar. E a FIFA acabou por ficar muito difícil. Eu jogava online antes, mas depois as derrotas foram somando. O ego acabou por ficar machucado (risos). Mas gosto muito de assistir a futebol, especialmente europeu. A maior parte dos jogadores europeus leva muito a sério a carreira.
O Cauã é pai de uma menina de nove anos. Entendemos melhor os nossos pais quando também o somos?
Vamos admirando muitas decisões tomadas pelos nossos pais e outras que sabemos que vamos fazer de forma diferente. É uma pergunta muito profunda… Você aprende a desobrigar o seu pai e a sua mãe de certas atitudes, por mais que nos obriguemos a ter atitudes diferentes. Traz uma paz interior.
O que mais gosta em Portugal?
Adoro poder andar na rua. No Brasil, cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo, são muito populosas. Aqui sinto que há mais espaço. E é óbvio falar da comida também. Os portugueses tratam-me bem. Vocês têm um jeito direto, mas que é sincero. E eu gosto disso.
Com 20 anos de carreira, o que pesa agora mais nas suas escolhas?
Há o roteiro, a equipa, a personagem. Mas se eu tiver uma equipa que eu gosto muito, eu não me importo de fazer uma personagem que tenha uma semelhança com outra anterior. Pego nela de outra forma. Hoje em dia penso muito se fico longe da minha filha e tento não muito gravar à noite. Funciono melhor das 10h até à meia-noite. A partir daí… não sei se entrego o meu melhor trabalho.