Pedro Chagas Freitas recorda: "Aquele enfermeiro não foi desumano, mas faltou-lhe humanidade"

O escritor desabafou sobre o dia que o filho foi operado. Recorde-se que o menino passou mais de três meses internado num hospital, à espera de um dador de fígado.

Pedro Chagas Freitas e Benjamim
Pedro Chagas Freitas e Benjamim
Reprodução Instagram, DR

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O filho de Pedro Chagas Freitas sofria, desde pequeno, de uma doença rara no fígado, tendo recebido um novo órgão em julho do ano passado. O menino passou três meses no hospital. Agora, o conhecido escritor deixou um novo desabafo sobre um momento difícil que viveu no pré-operatório de Benjamim.

"Não era a primeira vez. Já havia visto, algumas vezes, o meu filho ser anestesiado. Aquele momento, os olhos a descerem de repente, a consciência a ir, não sai da cabeça de um pai, da cabeça de uma mãe. Quando deixa o seu filho num bloco operatório e o vê fechar os olhos para estar pronto para a cirurgia, um pai, uma mãe, não são pessoas; são borboletas, penas ao vento. Qualquer palavra, qualquer gesto, pode levar-lhes a força que ali é rara, quase nula. Aquele enfermeiro não foi desumano, mas faltou-lhe humanidade", escreveu na legenda da publicação.

"Vi o meu filho fechar os olhos, com a testa colada à minha, depois de lhe dizer enquanto ainda estava consciente, todos os segundos em que estava a ser anestesiado, que o amava acima de tudo, que ia amá-lo sempre, que ele era o mais forte, o mais corajoso, dos meninos, o meu herói. Porque é. Quando a anestesia fez efeito, os olhos reviraram, ficou adormecido. Tudo o que somos desaparece nesse instante. Pode ser o exame mais trivial, mas tudo em nós desaparece. Foi isso o que aquele enfermeiro não percebeu, ou não sentiu, ou percebeu e sentiu e não julgou importante. É. Ali, tudo é importante para um pai, para uma mãe. É uma despedida. Naquele momento, nenhum pai sabe se vai voltar a ver o seu filho de olhos abertos. Não conheço angústia maior", acrescentou.

De seguida, lamentou a frieza com que foi tratado por um dos enfermeiros: "'Faça favor de sair. Queremos fazer o nosso trabalho'. Assim, de uma forma seca, áspera, oca. Só queria olhar mais uma vez o meu menino; seria meio segundo. Não pude. Não fiquei magoado; fiquei despejado, ao relento. Saí dali derrotado, em estilhaços. Ser um bom profissional é ser uma boa pessoa. Uma grande pessoa, uma extraordinária pessoa. A empatia é o super-talento de qualquer enfermeiro, de qualquer pessoa. Não estou revoltado. Faço um esforço para imaginar que talvez estivesse cansado, que talvez o dia não tivesse sido o melhor, que teria as suas próprias batalhas, as suas próprias tristezas, os seus próprios abismos", recordou.

Por fim, deixou uma garantia: "Estou triste, fiquei triste. Ele fez o seu trabalho, eu estava a fazer o meu. O trabalho de um pai, de uma mãe, é amar o seu filho, protegê-lo como um louco. Nunca me demitirei."


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