Judite Sousa desabafa: “Todas as semanas me lembravam que o meu filho tinha morrido”

“Não quero ser mais vítima de cyberbullying”, afirmou a jornalista numa entrevista emotiva concedida a Júlia Pinheiro.

(Reprodução Instagram, DR)
(Reprodução Instagram, DR)

Famosos

Judite Sousa esteve esta sexta-feira, 20 de janeiro, no programa das tardes da SIC para falar sobre o seu novo livro, Pedaços de Vida. Em conversa com Júlia Pinheiro, a jornalista começou por contar que escreveu a obra para “honrar a memória” do filho, André Bessa, que morreu na sequência de um acidente numa piscina, em 2014.

Tinha necessidade de partilhar com as pessoas que gostam de mim, tinha necessidade de lhes contar como é que as coisas aconteceram realmente”, começou por esclarecer.  

“Eu tinha ido a um jantar de anos, depois houve um grupo que sugeriu ir ao Tamariz […] Por volta das 03h00 da manhã, comecei a sentir-me indisposta […] eu senti que alguma coisa estava a acontecer. Eu vivia no Chiado, cheguei ao Chiado eram para aí umas 04h00 da manhã, pouco depois telefona um amigo do meu filho, o Manuel, a dizer que ele tinha tido um acidente. Pela voz do amigo do meu filho, eu percebi que era algo grave. Ele disse-me que me ia buscar para me levar para Setúbal. Eu telefonei ao pai do André, que trabalha na RTP”, contou, recordando o dia do acidente.

“Chegámos os dois ao hospital, eu entro na urgência aos gritos, completamente descontrolada e aparece-me um médico à frente…que me disse: ‘A senhora vai ver o seu filho, mas o seu filho não tem sinais neurológicos’. Obviamente nesse momento, eu percebi o que ele me estava a dizer, estava-me a dizer que o meu filho estava em morte cerebral. E, a partir daqui, desencadeou-se um fenómeno mediático incontrolável. Toda a gente a aparecer, os meus colegas, os meus amigos, os amigos do meu filho, as tais centenas de pessoas que nunca mais apareceram, que nunca mais me aparecerem a mim, que não apareceram ao pai. Apareceram para a fotografia, as coisas são o que são, lamentou.

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“Foi tudo público, o velório foi público, o funeral foi público […] A morte do meu filho foi pública durante anos, a morte do meu filho esteve colada à minha pele durante anos. Nos quatro anos que se seguiram à morte do meu filho, eu fui todas as semanas capa de revista, todas as semanas me lembravam que o meu filho tinha morrido, durante quatro anos. Ou era porque estava mais contente, ou era porque estava mais alegre, ou era porque tomava mais ou menos comprimidos, ou era por isto ou era por aquilo[…] Uma falta de compaixão, uma falta de ternura”, atirou.

Em seguida, Judite Sousa explicou o que a levou a deixar o jornalismo. “Eu anunciei que não voltava mais a trabalhar por duas razões. Em primeiro lugar porque depois daquela confusão que aconteceu há seis meses, acho que nenhum empregador neste país me dava trabalho. A segunda razão, e talvez a mais importante, foi para deixarem o meu filho em paz, para que o meu filho possa estar em paz onde estiver, porque eu não quero ser mais vítima de cyberbullying, utilizando o meu filho”, revelou.

Pouco tempo depois do meu filho morrer, escreveram que eu não podia dar notícias de afogamentos porque o meu filho tinha morrido afogado, isto é cyberbullying, isto tem um nome… O cyberbullying é desumanizar, é tirarem-te tudo, tirarem-te a pele, tirarem-te os órgãos, utilizando, se for preciso, os teus familiares mais próximos e fizeram isso comigo, utilizando o meu filho”, completou.