Sem pudores, Débora Monteiro fala sobre sobrevivência e amor: "tinha o sonho de ter um quarto”

Atriz cresceu com dificuldades e lutou para sustentar-se.

Famosos

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Uma mulher do Norte que, há quem diga, em menina foi o pesadelo para os professores. Uma criança traquina que levou reguadas, que cresceu no seio de uma família numerosa que brincava na rua e que viveu ao máximo a cumplicidade e as zangas com os irmãos. A família vivia num apartamento de apenas um quarto, as dificuldades financeiras sentiam-se mas os obstáculos não trapacearam o destino de Débora Monteiro.

"Tinha o sonho de ter um quarto”

A menina do bairro pobre de Vila Nova de Gaia vingou na vida: tornou-se numa mulher forte, numa atriz reconhecida e esteve, hoje, à conversa com Júlia Pinheiro onde abriu o álbum das recordações.

Enquanto era criança confessa que "tinha o sonho de ter um quarto” porque "ia à casa das [suas] amigas e todas elas tinham um quarto e Barbies” mas enaltece: “Não vou dizer que me faltou assim muita coisa” até porque Maria de Lurdes, a mãe que venceu o cancro, “trabalhou muito, muito para os filhos, durante o dia e durante a noite” para sustentar a família e nunca se queixou. Mas havia duas coisas com que a pequena Débora sonhava nos aniversários: bolo de morangos com chantilly e um ramo de flores porque, nas suas palavras, "achava chique".

Um dia, esses presentes chegaram. Um dia, aconteceu - também - um encontro que mudou a sua vida. A irmã de Débora foi abordada na rua e convidada para fazer um curso de manequim e acabaram por inscrever-se as duas. Na agência, quando chegaram a sugerir que reduzisse o peito para trabalhar em moda, Debora confessa que ficou marcada e com complexos para o resto da vida: “Eu fiquei muito chocada”.

“Eu vim e vou mostrar que consigo”

Lutadora, aguerrida e com um sentido muito prático da vida, aos 19 anos apaixonou-se e decidiu fazer as malas e rumar até Lisboa. À mãe disse que o objetivo era o curso de instrutora de fitness, que acabou por fazer também, mas a vontade era a de viver a história de amor que resistiu durante 8 anos e meio: “Vim só com uma mala”, “vim à aventura”! Acontece que, passado o primeiro ano, o ex-namorado foi para fora e ela ficou sozinha, com contas para pagar e sem forma de sustento.

Desses tempos, lembra-se de um ananás que lhe serviu de refeição durante uma semana, lembra-se de chegar a desmaiar no curso, lembra-se de fazer babysitting e limpezas na casa um amigo - mesmo depois de já ter começado a trabalhar como atriz - para se sustentar porque, afinal, na sua cabeça ecoava uma voz: “Eu vim e vou mostrar que consigo”.

No Porto, a mãe não imaginava metade do esforço da filha e de como a integração foi dura para a talentosa artista. Em Lisboa, a jovem "não conseguia fazer amigos” e confessa: “Senti muito a solidão porque ninguém estava disponível”, chegando a ser alvo de chacota - até - pela pronuncia do norte.

O tempo ia passando e não conseguir vingar na representação consumia-a. Hoje, afirma sem pudores que não era muito boa e que foi "horrível quando no [seu] primeiro projeto”. Desses tempos ficou a aprendizagem e a preserverança: “Ainda hoje sou muito poupadinha”.

No futuro, Débora “gostava de fazer cinema, gostava de fazer teatro” e, apesar de já ter feito rir muito os telespectadores, "não tinha noção nenhuma que tivesse jeito para comédia”. Sonha "fazer um drama, ou uma vilã" porque, afinal, diverte-se "muito a fazer comédia, mas gostava de mostrar que consigo fazer outras coisas”.

Em jeito de desabafo explica que, no meio artístico, "a beleza empata muito" e confessa já ter sido assediada em trabalho. Sofreu "bullying depois do assédio", retaliações e teve que cumprir o projeto até ao final do contrato: "é horrível porque estás constantemente insegura, sentes que estás sempre a ser humilhada pelos teus colegas".

“Acho que não vamos casar”

Para além da representação, Débora tornou-se numa empresária e numa mulher muito amada. Em parceria com o namorado, Miguel Mouzinho, abriu - em agosto - um restaurante de comida asiática em Lisboa e juntou o amor aos negócios.

Durante o programa, o namorado surpreendeu a sua "nonetis" com os mais rasgados elogios profissionais e pessoais e com uma mensagem de recheada de bom humor. Débora acrescentou que se conheceram no Facebook, que namoram há quase oito anos mas confessou que acha que não vão casar, embora já tenham falado em organizar uma festa para juntar os amigos. A questão é que “ia dar muito trabalho” e que parece que depois de ter posado com tantos vestidos de noiva quando era manequim, isso perdeu a magia.

Apesar da gargalhada desconcertante, Débora Monteiro é tímida, não gosta de ser o centro das atenções e prefere ficar em casa em vez de ir a festas. Os eventos sociais são, muitas vezes, verdadeiros pesadelos: “Tenho, às vezes, ataques de ansiedade” e já chegou a ter que telefonar ao namorado para ter que ir buscá-la a plena avenida da liberdade. Agora, aprendeu: “Se me vai massacrar, eu não tenho que ir”.