Um dia disse que ‘os filhos são a última oportunidade que nós temos de melhorar enquanto pessoas’, hoje “começo a aperceber-me que não. Acredito que ser avô também é uma oportunidade do caraças”, conta Afonso Pimentel a Daniel Oliveira, enquanto revê a relação dos filhos com os seus pais. “É muito giro vê-los fazer esse processo (…) perceber ‘como é que a gente cuida deste bichinho’. Perceberes que pessoas de 60/70 anos estão disponíveis ainda para aprender e para serem melhores pessoas com os netos é do caraças (…) percebi que eles são mesmo pessoas incríveis e que estão a querer ser melhores avós do que todos fomos algum dia pais”.
Afonso Pimentel tem 36 anos e dois filhos, Noah, de seis anos e Alana, de três. Em entrevista no Alta Definição, falou sobre a paternidade e o seu processo de maturidade, para o qual muito têm contribuído os filhos. Recordou um dos momentos em que mais aprendeu com o filho: “Um dia decidi que não ia dar mais palmadas ao meu filho. Nunca dei muitas e aquelas que dava doíam-me (…) nunca mais dei, percebi que não funcionavam. Eu ficava na m*rda porque tinha dado a palmada, o puto não percebia porque é que tinha levado, mas depois tens de perceber qual é o caminho alternativo a isso. Houve um dia que eu estava a atar os sapatos ou qualquer coisa assim, num daqueles dias em que parece que o mundo está a cair e de repente eu não consegui, agarrei-o [ao filho] e encostei-me a ele e disse ‘Noah não faças isso’ e dei por mim de testa encostada à dele: ‘para com isso por favor!’. E segui com a minha vida super orgulhoso porque não lhe tinha dado uma palmada. No dia a seguir, eu estou a fazer o mesmo [atar os sapatos], digo-lhe qualquer coisa, ele vem direito a mim, encosta-me a testa e faz-me igual e diz ‘tu tens de parar com isso!’ e aquilo foi, provavelmente, das coisas mais complicadas que eu tive de lidar na vida. Porque tinha ali duas estradas, uma era dar um palmadão e dizer ‘não fazes isso ao teu pai’, e outra é perceber que tu tinhas feito m*rda 24 horas antes e ele só repetiu o comportamento.”.
Apesar de ter deixado o filho meio confuso, decidiu ir pelo caminho do diálogo e explicar, de forma a que ele entendesse mais cedo ou mais tarde que “acho que percebi o que tu fizeste. (…) eu não me senti bem contigo a fazer isto, portanto acho que tu ontem também não te deves ter sentido. Vamos fazer uma coisa: eu não te volto a fazer isso e tu também não voltas a fazer isso ao pai”, conta o ator que se estreou na representação em 1996. “Eu percebi que ele naquele dia teve medo (…) eu não quero que ele tenha medo, só quero que ele perceba que não podia fazer aquilo”. Tirou uma grande lição deste episódio, porque “se ele repetiu isso, ele vai repetir todas as outras coisas que tu não te apercebeste que fizeste”.
Afonso Pimentel é um dos atores mais reconhecidos da sua geração em Portugal. Foi nomeado para um Globo de Ouro na sua estreia na representação. Tinha apenas 14 anos e o filme era “Adeus Pai”. Não ganhou dessa vez, mas voltou 10 anos depois para arrecadar o troféu pelo papel em “Coisa Ruim”. Atualmente dá vida a André, na nova novela da SIC, “Alma e Coração”. Foi o convidado de Daniel Oliveira no Alta Definição, emitido a 29 de setembro.
